Milagre brasileiro: a Petrobras enxerga um flagelado no deputado mais rico do país
AUGUSTO NUNES
Promovido simultaneamente a multimilionário e flagelado, o usineiro alagoano João Lyra acaba de transformar-se num originalíssimo caso de esquizofrenia financeira que só dá no Brasil. Baseado na declaração de bens do candidato a deputado federal pelo PTB, o Tribunal Superior Eleitoral concluiu que Lyra é o mais rico dos parlamentares eleitos neste outubro: o patrimônio confessado alcança R$ 240 milhões, ou 1/5 do que possuem, somados, todos os colegas de Legislativo. Baseada em informações fornecidas pelo próprio Lyra, que apareceu por lá junto com o senador Fernando Collor para relatar os estragos provocados pelas enchentes de julho numa de suas usinas, a Petrobras Distribuidora concluiu que o deputado mais rico do país é um flagelado merecedor de atendimento urgentíssimo. E resolveu socorrê-lo com um contrato de R$ 200 milhões.
O pai de Tereza Collor ficou devendo mais essa ao aliado político que desde dezembro passado, quando emplacou a nomeação de José Zonis na Diretoria de Operações e Logística, entra sem bater na Petrobras Distribuidora. Para fechar o acerto, Lyra só precisou da escolta do amigo de infância de Lula e de uma visita de três horas à estatal. Precisou de menos tempo ainda para transformar a papelada em dinheiro vivo. Bastou-lhe dirigir-se a um banco, apresentar o contrato como garantia e solicitar um empréstimo de valor idêntico, com juros de compadre.
Teve mais sorte que seus companheiros de infortúnio. Até agora, segundo o Programa de Reconstrução do Governo Estadual, o governo federal repassou exatamente R$ 490.684.000, 00 a Alagoas, um dos Estados mais castigados pelas inundações do último inverno. As verbas foram distribuídas entre a Secretaria de Infraestrutura (R$ 250 milhões), a Secretaria de Educação (R$ 122 milhões), a Secretaria de Defesa Civil (R$ 75 milhões) e a Secretaria de Saúde (R$ 43.684). Nenhum centavo chegou às mãos da multidão de flagelados. Nenhum deles viu a cor do dinheiro. Só João Lyra.
Lula diz de meia em meia hora que governa para os pobres. Pode agora invocar o caso do flagelado que embolsou 200 milhões de reais.
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