DON LUÍS 51
O Rei Luís XIV da França proclamou: "l'etat c'est moi" (o Estado sou eu), abaixo da Linha do Equador um presidente afirmou que ouvia as 'vozes (ronco) do povo' coisa que talvez nem Freud (Sigmund) ou Darwin (Charles) explicassem; agora Don Luís LI encarna o próprio povo.
O certo é que apego reiterado à falsificação da realidade é apenas um aspecto da prepotência engendrada pelo viés autoritário – que não separa os dados corretos da realidade (empíricos), acreditando que o poder deve induzir a qualquer preço a crença dos 'súditos' na retórica discursiva, com o objetivo dissimulado de incutir falsidades e mentiras (múltiplas), da realidade e da aparência – para ocasionar o (sub) desenvolvimento de uma falsa consciência em torno do que acontece no cotidiano, forjando na sociedade uma consciência parcial e contingente de si própria, enquanto 'elles' disputam o espólio, no velho estilo de 'guerras de quadrilhas'.
Confira.
RR
O povo sou eu
02 de dezembro de 2010 | 0h 00
O mesmo presidente Lula que aconselhou um repórter deste jornal a fazer psicanálise para se tratar da "doença do preconceito", revelou ter dito de si certa vez algo que deveria levá-lo ao divã do terapeuta mais próximo. Não fosse a inconfidência, a sua grosseria com o jornalista Leonencio Nossa, baseado no Palácio do Planalto, mereceria ser largada no aterro onde se amontoam os incontáveis rompantes, bravatas e despautérios do mais prolixo dos governantes brasileiros. Mas o encadeamento das coisas obriga a revolver as palavras do presidente, em consideração ao interesse público.
As cenas constrangedoras se passaram quando Lula visitava as obras da hidrelétrica de Estreito, no Maranhão, para o fechamento simbólico da primeira das 14 comportas da usina. Perguntado pelo repórter do Estado se a visita era uma forma de agradecer o apoio da oligarquia Sarney ao seu governo, ele perdeu as estribeiras. Embora o presidente do Senado seja o patriarca do clã que sabidamente controla a vida política maranhense há cerca de meio século e embora seja também notória a sua sintonia com os interesses do lulismo - e vice-versa -, Lula reagiu com indisfarçada hostilidade.
A pergunta "preconceituosa", investiu, demonstraria que o jornalista não teria aprendido que o Senado é uma instituição autônoma e que, ao se eleger e tomar posse, todo político "passa a ser uma instituição". "Sarney não é meu presidente", emendou. "É o presidente do Senado deste país." Lula domina com maestria o tipo de mentira que consiste em omitir uma parte, a mais importante, da verdade. No caso, o pacto de mútua conveniência entre ambos - que se sobrepõe ao caráter institucional das relações entre dois chefes de Poderes.
Que o diga o PT do Maranhão, obrigado este ano a desistir da candidatura própria no Estado em favor da reeleição da governadora Roseana Sarney. Foi ao pai que Lula se dirigiu em dada ocasião para transmitir uma ameaça ao Congresso. Segundo a história que o presidente contou na sua fala de improviso em Estreito, no decorrer da crise do mensalão, em 2005, pediu que Sarney advertisse os parlamentares da oposição de que, "se tentassem dar um passo além da institucionalidade, não sabem o que vai acontecer". Porque "não é o Lula que está na Presidência, mas a classe trabalhadora"
Ou, mais precisamente, porque ele é "a encarnação do povo". Não há o mais remoto motivo para duvidar de que isso é o que ele enxerga quando se olha ao espelho. Luiz XIV teria dito que "o Estado sou eu". Era, de toda sorte, uma constatação política - e a mais concisa definição que se conhece do termo autocracia. Mas nem o Rei Sol, que via a sua onipotência iluminando a França, tinha a pretensão de encarnar os seus súditos. Não ousaria dizer "o povo sou eu". Em psiquiatria há diversas denominações para o que em linguagem leiga se chama mania de grandeza.
Lula disse ainda que de início tinha medo do que lhe poderia acontecer à luz de um passado que incluía o suicídio de Vargas, a tentativa de impedir a posse de Juscelino, a deposição de Jango, a renúncia de Jânio e o impeachment de Collor. A julgar por sua versão, o migrante que passou fome e privações e refez a vida sem renegar as suas origens seria um candidato natural a engrossar a lista dos governantes brasileiros apeados do poder de uma forma ou de outra, no que seria uma interminável conspiração dos descontentes. Mas "eles", teria dito naquela conversa com Sarney, "vão saber que eu sou diferente".
O que espanta, além da teoria encarnatória, são as circunstâncias que levaram Lula a invocar alguns dos momentos mais turbulentos da história nacional. Em 2005, a oposição não conspirava para "dar um passo além da institucionalidade" nem o País estava convulsionado por um confronto ideológico que se resolveria pela força. Os brasileiros, isso sim, estavam aturdidos com as evidências de que o lulismo usava dinheiro que transitava pelos desvãos da política e do governo para comprar votos na Câmara dos Deputados - o mensalão. Lula não estava nem um pouco preocupado com as instituições. Queria dar dimensão histórica ao que não passava de um caso de polícia. Encarnou uma mistificação.
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http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101202/not_imp648302,0.php
Em discurso, presidente diz que é a 'encarnação do povo'
Autor(es): Leonencio Nossa |
O Estado de S. Paulo - 01/12/2010 |
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De improviso, Lula reconheceu que seus antecessores não tiveram as mesmas condições que ele para governar
Lula confidenciou que tinha "muita dúvida" se teria condições de governar o País. "Este País já tinha criado as condições para o Getúlio Vargas se matar, não deixar o Juscelino assumir e cassou o João Goulart. Eu falei: o que eles vão aprontar comigo? E eles tentaram em 2005. Só que eles não sabiam que este País, pela primeira vez, tinha eleito um presidente que era a encarnação do povo, lá em Brasília." No discurso atípico, Lula reconheceu que seus antecessores não tiveram as mesmas condições que ele ao assumir o comando do País. "Eu tenho consciência que outros presidentes não tiveram as mesmas condições que eu. O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar", disse Lula. Obra. O presidente observou que a inauguração da obra ficará para o próximo governo. "É a Dilma que virá inaugurar, mas eu tinha que vir para fechar a comporta, pelo menos", disse, lembrando que desmarcou três visitas à obra por causa de problemas nas áreas ambiental e social. Comunidades ribeirinhas denunciam que estão sendo prejudicadas pela construção. O presidente afirmou que recentemente foi firmado um acordo entre o consórcio Estreito Energia, construtor do projeto, e o movimento de atingidos pelas barragens. Pelo acordo, a empresa se responsabilizará por garantir a realocação das famílias e criar condições para que os pescadores continuem suas atividades. |
"Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto, e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo.
Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista.
E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso."
General Olimpio Mourão Filho em A Verdade de um Revolucionário de 1978
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