MISTICISMO x MARXISMO

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
MISTICISMO x MARXISMO.


Quais os pontos divergentes? Existe algum ponto convergente?
Um místico também deve se envolver e fazer política?


A princípio, podemos concluir que se o misticismo se orienta por leis
espirituais basicamente e se o materialismo marxista, inversamente,
pretende eliminar qualquer fundamento metafísico e, portanto, qualquer
princípio espiritual, consequentemente são excludentes.

Primeiro, precisamos saber o que é misticismo e o que é marxismo para
entendermos onde divergem e/ou convergem, afinal, o misticismo
verdadeiro é pragmático (prático) e, portanto, atuante. Ou seja, o
misticismo verdadeiro não é alienante, ao contrário, pretende influir
no mundo e, para tanto, o praticante do misticismo deve está
consciente de todos os fatores que envolvem as relações (sociais,
psicológicas, culturais, etc.) da sociedade em que vive e, assim,
contribuir efetivamente para a sua elevação.

Para a maioria dos marxistas mais conservadores, misticismo já implica
em alienação e, portanto, em negação do homem como agente
transformador do mundo. Também é verdade que a maioria dos místicos
repudia de pronto as idéias marxistas, pois, associam-nas sempre as
ditaduras socialistas e, portanto, a algo contrário a liberdade de
pensamento. Mas, o que há de verdadeiro e falso nestas duas concepções
e que dão a entender que são conflitantes e, consequentemente,
inconciliáveis em qualquer ponto?

O que propõe o marxismo? O que é o marxismo? É importante um místico
conhecer as propostas marxistas? Elas são relevantes para um místico
atuar no mundo em que vive?


O marxismo

Até hoje, muitos dão um passa atrás quando escutam a palavra marxismo.
Existe, nesta atitude, muita mais preconceito do que conhecimento de
fato. Basta alguém associar naturalmente marxismo a comunismo para
prontamente repudiar o assunto, sem ao menos conhecê-lo. Mas, quais
são as idéias marxistas? Por que tantas revoluções, golpes de Estados
e ditaduras ocorreram em virtude do marxismo, seja para defendê-lo,
seja para combatê-lo?

Karl Marx (1818-1883), em seus estudos, fez uma revelação que não pode
ser refutada, pois, trata-se de uma constatação. A primeira evidência
clara que Marx verificou do processo histórico humano é que a história
ocorre através das contradições sociais, gerando, assim, uma
dialética. Portanto, conclui Marx, a história é resultante de ações
efetivas dos homens e estas ações estão condicionadas (mesmo
implícitas) às lutas de classes. A dicotomia repressor x reprimido,
opressor x oprimido, explorador x explorado, ricos x pobres,
governantes x governados provocam ações conflituosas. São as
permanentes contradições de um sistema de dominador x dominado. Estas
relações dialéticas geram a história.

Assim, segundo a constatação de Marx, a nossa história retrata
exatamente os conflitos resultantes desta contradição. Porém, o
pensamento do dominador sempre condicionou a nossa cultura, pois,
sempre monopolizou as idéias, o conhecimento e toda a cultura humana.
Até mesmo as religiões, pensa Marx, estão condicionadas pela ideologia
dominante, portanto, as idéias transcendentais que envolvem as
teologias não passam de embuste para mascarar os seus reais
interesses. Acredita ele que a cultura tradicional (e aqui se inclui o
pensamento religioso também) fora produzida, até então, a partir de
uma perspectiva da elite social dominante.

Dentro desta ótica, ou melhor, a partir do materialismo dialético, ou
seja, das contradições, todas as injustiças sociais são produzidas e,
consequentemente, para eliminar estas injustiças é necessário eliminar
estas contradições através da eliminação de sistema explorador que é o
capitalismo. Portanto, os males sociais não têm uma origem
sobrenatural, divina, mas resulta da exploração de uma classe sobre a
outra. Para tanto, a classe dominada (no caso, os proletários) deve
derrubar a classe dominante (a burguesia) e instalar um Estado
Socialista através da eliminação da propriedade privada (instrumento
capitalista para a exploração e obtenção de lucro).

O misticismo

Por outro lado, o misticismo afirma que nada acontece por acaso, pois,
tudo segue a Lei Universal do Carma. Mas, o que é carma para o
místico? Ora, a Lei do Carma é a Lei de Causa e Efeito. Nem é castigo
ou punição como acreditam erroneamente alguns.

Sendo carma uma lei de causa e efeito, então, é uma Lei pragmática. E,
a ferramenta básica para a existência do carma é o livre-arbítrio. Ou
seja, todo homem e mulher são livres e responsáveis por seus atos,
colhendo assim, individual e/ou coletivamente, os frutos de suas
ações.

Neste aspecto o verdadeiro misticismo em nada difere da filosofia
marxista. O desencontro existe quando alguns místicos equivocados
justificam algumas injustiças como se fossem punição cármica. Verdade
que existe carma coletivo, contudo, basta mudar um pensamento
(coletivo) para mudar completamente um carma.

Carma também é tendência (individual e/ou coletiva) e ninguém pode
negar que ela existe. Há pessoas e grupos que trazem em si certas
tendências (negativas ou positivas). São nossos pensamentos, palavras
e atos que definem a qualidade de nossas vidas (coletivas e
individuais).

Mas, os verdadeiros místicos afirmam que tudo começa em nossa mente.
São os nossos pensamentos e emoções que geram palavras e que geram
atos. A qualidade destes pensamentos, emoções e palavras que definem
nossos atos e a qualidade de nossos definem a qualidade de nossas
vidas (individuais e coletivas).

São qualidades espirituais, portanto, que definem as nossas vidas.
Consequentemente, toda mudança coletiva implica, antes de tudo, em
transformações individuais (embora, seja verdade que as mudanças
estruturais contribuam com as transformações individuais). O fato é
que a base para as transformações são metafísicas, espirituais.

Um místico precisa desejar também a justiça social, afinal, tudo que
atinge um atinge também o todo e nenhum místico pode ficar indiferente
perante a injustiça. A desigualdade social não é justificada pela
espiritualidade. A desigualdade e injustiça social são coisas humanas
e precisam ser eliminadas. Porém, um místico atua no campo metafísico
para que estas mudanças ocorram. Será através da harmonia que vamos
construir uma sociedade justa. Nenhum conflito pode gerar outra coisa
senão conflito. Isto não implica em alienação, mas em formas
diferentes para as transformações. Para o místico tudo começa em nossa
mente, em nossa alma, então, antes de tudo, as transformações precisam
começar aí. E, é neste campo que o místico atua.

Como conhecimento o marxismo confia plenamente no que obtém do mundo
objetivo. Qualquer especulação abstrata é prontamente eliminada pelo
marxismo, afinal ele se apóia e confirma o materialismo. Só importa,
portanto, com as relações que existem a partir do mundo físico.
Contudo, embora de fato o marxismo tenha ajudado a eliminar muitas
explicações supersticiosas nas relações humanas, está limitado e,
consequentemente, não consegue abarcar toda a verdade das causas como
pretenciosamente afirma.

Descartes fez uma conclusão incontestável de que os nossos sentidos
físicos são limitados e, portanto, não há segurança no conhecimento
que obtemos através deles. O universo de Descartes é essencialmente
espiritual, porém, sua metafísica é regida por leis precisas: a
lógica.

O conhecimento, para Descartes, é transcendente, ou seja, está além
dos nossos sentidos físicos, ou melhor, em nossa alma.

Fazer a conexão entre o mundo material e o mundo espiritual nos parece
mais lógico e sensato, afinal, os valores espirituais (como bondade,
altruísmo, etc) só podem ser a base para qualquer transformação
efetiva em nossas vidas e em nossos relacionamentos. Assim, se um
místico precisa levar em conta a realidade de nossas contradições,
também precisa levar em conta, antes de tudo, que tudo começa (ou se
origina) em nossa mente (individual ou coletivamente) e é aí que deve
atuar para contribuir com a prosperidade, a paz, a harmonia e o
progresso (material e espiritual) de toda humanidade.


Hideraldo Montenegro

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