[sbis_l] Google Health será fechado em janeiro de 2012

quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Resumo: Como foi anunciado em junho pela SBIS News, a empresa Google
confirmou o fechamento definitivo de sua experiência de disponibilizar
um registro pessoal eletrônico de saúde (PHR - Personal Health Record),
que sinalizava a entrada do gigante norte-americano nesse setor tão
cheio de armadilhas. Segundo a declaração do Google em seu blog, na ocasião:

"Após alguns anos de experiência, observamos que o Google Health não
teve um impacto tão amplo quanto esperávamos. Ocorreu um certo grau de
adoção entre alguns grupos de pacientes e seus cuidadores
tecnológicamente espertos, e mais recentemente, de entusiastas de
bem-estar e boa forma em saúde. No entanto, nós não encontramos uma
maneira de generalizar esse uso limitado em direção de uma adoção
generalizada nas rotinas diárias relacionadas à saúde de milhões de
pessoas. É por isso que nós tomamos a difícil decisão de interromper o
serviço do Google Health. Nós vamos continuar a operar o site como de
costume até 1 de janeiro de 2012, e vamos possibilitar acesso contínuo
aos usuários, para que posssam baixar os seus dados de saúde, por mais
um ano, até 1 de janeiro de 2013. Quaisquer dados que permaneçam no
Google Health depois dessa data serão excluídos permanentemente".

A Google declarou ainda que possibilitará a exportação dos dados em
vários formatos, inclusive em XML compatível com o padrão Continuity of
Care Record (CCR), e em apoio aos padrões do Direct Project.

Fonte:
http://googleblog.blogspot.com/2011/06/update-on-google-health-and-google.html

Comentários do editor:

Era um projeto aparentemente de grande futuro e com potencial de afetar
massivamente o cenário dos PHRs. Fui seu usuário pessoal durante dois
anos, e gostava bastante, embora ele tivesse algumas falhas conceituais
e práticas de organização de um PEP on-line.
Mas no curso comentário no blog da Google, muito pouco foi falado sobre
as verdadeiras razões para o Google Health ter sido fechado. Acompanhei
várias discussões muito intensas e bem fundamentadas em listas e
comunidades virtuais de informática em saúde, principalmente as do
LinkedIn. Pelo que eu entendi, as principais razões foram:

1. Ameaça de multas bilionárias pela HIPAA, por violações múltiplas de
confidencialidade e segurança (esse talvez teria sido o fator mais
importante, embora a Google dificilmente irá admitir publicamente)

2. Fracasso do modelo econômico clássico da Google (anúncios nas páginas
e venda de informações sobre os usuários para empresas farmacêuticas e
de seguros saúde), por não terem previsto as barreiras éticas

3. Baixa utilização (baixa no conceito deles, o sistema tinha alguns
milhões de usuários), pois pouquissimos pacientes tinham a paciência de
entrar as informações e mantê-las atualizadas manualmente

4. Recusa dos médicos em utilizar o PHR, pois consideram que um PEP
controlado pelo paciente é incompleto e geralmente omisso e mentiroso,
portanto não dá para basear atenção médica numa coisa dessas.... Além
disso, com a maior penetração de PEPs nos hospitais, dificilmente os
médicos concordariam em acessar o PHR do paciente, além do usado no
hospital ou em seu consultório, devido ao limitado tempo de que dispõem,
e a necessidade de fazer transcrição manual de um para o outro. Esse
talvez tenha sido o segundo fator mais importante.

5. Os ítens 3 e 4 só funcionariam se o Google Health fosse sincronizado
com os PEPs hospitalares, se houvesse um ID nacional para os pacientes,
ou se o record linkage fosse a prova de falhas, se houvesse uma
legislação federal única, e se houvesse integração automática e
extensissima com todos os laboratórios, clínicas de diagnóstico,
dispositivos médicos de monitoração (como glicosímetros, por exemplo),
etc. Em outras palavras, teria que ser mais um mítico HIE (Health
Information Exchange) do que só um PHR isolado como era o Google Health.
Previsão disso acontecer nos EUA: talvez em 20 anos??

Mas o principal fator é que aparentemente a população em geral,
especialmente as pessoas razoavelmente saudáveis, não enxergam nenhuma
utilidade ou valor agregado para um PRH.

Na minha opinião, se nada mudar, portanto, nenhum PHR on-line terá
sucesso comercial, agora ou no futuro. O Health Vault da Microsoft
continua, mas não se sabe porque ou por quanto tempo. Uma investigação
pessoal que fiz mostrou que 8 em cada 10 empresas que lançaram PHRs nos
EUA faliram ou fecharam. No Brasil não deve ser diferente.

Abraços
Renato M.E. Sabbatini
Editor Chefe, SBIS News


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