Re: [sbis_l] Apenas 20% dos médicos estão interessados em áreas carentes

Colegas,

Um desabafo polêmico sobre o tema:

Já tentamos levantar o tema algumas vezes aqui. Uma das justificativas contra a telemedicina é a necessidade da consulta presencial, um DOGMA (me desculpem o termo mas em debates sobre o tema quase sempre sobram defesas não racionais) que nos faz perder em vários aspectos.

Em minha especialidade (Anestesiologia), nos EUA entre outros, há por exemplo o papel do enfermeiro especializado em anestesia. Um anestesista fica responsável por várias salas cirúrgicas à distância e interfere apenas se solicitado pelo enfermeiro. Lá o ENFERMEIRO faz a intubação e diversos procedimentos que o Brasil quer deixar como legalmente de direito exclusivo do médico.

O motivo disso é segurança? Mesmo nos maiores hospitais do país, profissionais MÉDICOS que não realizam regularmente determinados procedimentos como intubação não tem condição de realiza-los apenas porque o fizeram uma vez na faculdade (muitos só ouviram falar). Do ponto de vista de quem faz isso várias vezes por dia, assistir um profissional MÉDICO que faz isso esporadicamente (digo, 1 vez por semana) parece assustador, e não vou detalhar isso. Reza a lenda que diversos profissionais de nível técnico têm melhor habilidade manual para tais procedimentos que determinadas especialidades médicas, e creio que um primata bem treinado poderia ter também. Para que todo esse parágrafo? Para argumentar que não é segurança apenas que estamos defendendo. Enfermeiros anestesistas de outros países certamente sabem fazer vários procedimentos médicos com muito mais habilidade e conhecimento que vários de nós.

Unir os conhecimentos de semiótica à história clínica para formular hipóteses e terapias parecem sim uma atividade mais complexa, que exigiria a interferência de um profissional especialista - um médico. Isso não impede que um profissional seja treinado para ser especialista em semiótica e examinar o paciente para passar os dados para o médico - o que seria o único impedimento para a telemedicina. Provavelmente todos os fisioterapeutas dominam melhor a semiótica do aparelho respiratório que médicos sem especialidade e que a maioria dos especializados em áreas não afins. Aliás hoje existem diversos modelos de estetoscópio no mercado capazes de gravar os sons! A auscuta pulmonar e cardíaca poderiam ser enviados para o médico da telemedicina..

A estratégia de aumentar o número de médicos além de não resolver o problema da falta no interior piorou a situação nas cidades - aumentou o número de profissionais com baixa qualificação. Um médico sozinho (sem o suporte de equipamentos, profissionais auxiliares e insumos de saúde) também é um ser praticamente incapaz - o que fará por exemplo um médico que ao caminhar encontra uma vitima de amputação traumática de membro na rua - telefonar?

Só lembrando que sou médico - mas reconheço parte das minhas limitações.

gabriel

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