JANIO DE FREITAS
Notícias de casa
SITUAÇÃO RARA nos eventos eleitorais, o Rio está fora das expectativas de últimos dias e das animadoras contradições entre Datafolha e Ibope. O Rio nem fala da sua eleição, mais postas as suas atenções em São Paulo do que em si. Desde os primeiros esboços do período eleitoral, o prefeito Eduardo Paes é visto como vitorioso fácil no primeiro turno.
A oposição lançou um candidato projetado por assunto, em princípio, muito atrativo para o eleitorado: a segurança urbana. Mas a oportunidade estava superada pela satisfação geral com o êxito das ocupações policiais de áreas antes sob o poder bandido. E outros fatores estavam também em campo.
A vantagem de Eduardo Paes é fruto de três peculiaridades principais. Primeira: não se ocupou, logo não se desgastou, com política. Deixou-a toda com o governador Sérgio Cabral, e aproveitou as rebarbas para a sua administração. Outra: não produziu escândalo nem se deixou tocar pelos envolvimentos de Cabral. Ainda: a massa de realizações da administração de Eduardo Paes é de fato impressionante, e restaurou o desaparecido estado de espírito do carioca.
Levantamento do "Globo" reconhece a realização de 67% do prometido por Paes quando candidato. Mais de dois terços, e não eram pequenas promessas.
Mas há também muita iniciativa, completada ou em andamento, proveniente de ideias e necessidades surgidas no decorrer do governo. As obras municipais da Olimpíada, por exemplo.
Entremeando tudo, a visão moderna de cidade e de administração, inclusive com a criação de um centro informatizado de operações já muito produtivo. Com a concepção modernizada de cidade, o centro e as áreas suburbanas receberam o que em bem mais de meio século só fora dado à zona sul.
Os motivos da vantagem de Eduardo Paes são visíveis, palpáveis e têm uma lógica independente dos habituais arranjos políticos.
Oposicionista e apoiada por numerosos intelectuais, atores e músicos, a candidatura de Marcelo Freixo fez um primeiro esforço competitivo com ajuda da comoção pública: tinha que deixar o Brasil por um tempo, forçado pelas ameaças de milicianos.
História que alimentou ou deixou engordar até que a Anistia Internacional interveio, e divulgou que apenas o convidara para uma palestra na Europa. Foi e voltou em duas passadas. Daí em diante, com campanha normal e algumas promessas do PSOL só cabíveis ao governo federal, Freixo apoderou-se do segundo lugar. Mas até agora limitado a um terço do apoio declarado a Paes.
Os demais candidatos não conquistaram presença alguma. Rodrigo Maia amparou muito sua campanha na acusação a Eduardo Paes por extinguir o programa Remédio em Casa, que distribuía medicamentos pelo Correio. É uma farsa cômica: quem extinguiu o programa foi o próprio pai de Rodrigo Maia, o então prefeito Cesar, agora reduzido a triste candidatura a vereador.
O PSDB trouxe contribuição ainda mais notável. A propaganda do minúsculo Otavio Leite no horário eleitoral expõe um apoio de peso e convicção: "Vou votar acreditando no Rio. Vou votar Otavio Leite". Se esse será seu voto, ou Fernando Henrique Cardoso transferiu o título para não votar em José Serra, ou mente sem a menor cerimônia (eu quase disse pudor).
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