Do UOL, em São Paulo
29/04/2013
O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou nesta segunda-feira (29) o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra por ocultar o cadáver do estudante de medicina Hirohaki Torigoe, 27, morto no dia 5 de janeiro de 1972.
Esta é a primeira vez que o coronel, que comandou o DOI-Codi (Destacamento de Operações Internas de São Paulo) de 1970 a 1974, é denunciado pelo crime de ocultação de cadáver –outras ações correspondem aos crimes de sequestro e tortura. O UOL tentou contato com o coronel e com o advogado dele, mas não os localizou.
O DOI-Codi era o principal órgão centralizador de informações para a repressão à oposição política durante o regime militar e se transformou em local de prática de tortura, homicídios e desaparecimentos. O livro "Direito à Memória e à Verdade", publicado pelo governo brasileiro em 2007, relata 64 casos de mortes e desaparecimentos pelos agentes do DOI-Codi de São Paulo durante a gestão dos militares Ustra e Audir Santos Maciel.
Segundo a versão oficial --divulgada duas semanas após o fato, segundo o MPF--, Torigoe foi morto na rua Albuquerque Lins, em Higienópolis (zona oeste de São Paulo), durante tiroteio com agentes da repressão. A família de Torigoe só soube da morte pelo noticiário --ainda segundo a versão oficial, a demora na divulgação ocorreu porque a vítima usava documentos falsos em nome de "Massahiro Nakamura".
Na ação proposta, o MPF contesta os registros com base nos depoimento de duas testemunhas, que afirmam que Torigoe foi ferido e levado ainda com vida ao Doi-Codi, onde foi interrogado e submetido a tortura. As testemunhas André Tsutomu Ota e Francisco Carlos de Andrade, presos naquela data, afirmaram também que os agentes responsáveis pela prisão de Torigoe conheciam a verdadeira identidade do detido.
De acordo com o MPF, documentos a respeito da vítima fornecidos pelos arquivos nacional e do Estado atestam que Torigoe era tido como um "elemento de alta periculosidade", "intensamente procurado pelos órgãos de segurança".
De acordo com o MPF, Hirohaki Torigoe era membro da ALN (Ação Libertadora Nacional) e depois integrou o Molipo (Movimento de Libertação Popular), organizações que pregavam a resistência armada ao regime.
O MPF, agora, acusa o coronel Ustra de sepultar clandestinamente o cadáver de Torigoe; de falsificar os documentos do óbito com o intuito de dificultar a localização do corpo; de ordenar a seus subordinados que negassem aos pais da vítima informações a respeito de seu paradeiro; e de retardar a divulgação da morte.
"A conduta dolosa de ocultação do cadáver resta totalmente caracterizada pelo fato de que os pais da vítima estiveram nas dependências do Doi-Codi antes da divulgação da notícia do óbito, em busca do paradeiro do filho. Lá, porém, funcionários do destacamento sonegaram-lhes a informação de que Hirohaki Torigoe fora morto naquele mesmo local e que seu corpo fora clandestinamente sepultado com um nome falso", ressalta a ação.
Além do coronel Ustra, o MPF denunciou o delegado aposentado Alcides Singillo, que atuou junto ao Deops-SP, por deixar de comunicar a correta identificação e a localização do corpo à família da vítima.
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