Wladmir Coelho
O clima de instabilidade política no Oriente Médio e norte da África
apresentam-se como justificativa para os recentes aumentos nos preços
do petróleo existindo uma preocupação dos países consumidores com a
repetição dos valores observados em 2008. Foi com esta apreensão que
reuniram-se no último dia 22 de fevereiro ministros da energia de 90
países em encontro promovido pelo International Energy Fórum (IEF) na
capital saudita.
A tônica dominante durante o encontro foi a necessidade da criação de
mecanismos de controle contra a especulação verificada no comércio
internacional do petróleo, ou seja, os ministros defendem
regulamentação dos papeis de venda futura do petróleo e não seria
surpresa o surgimento, dentre os consumidores, dos interessados em uma
espécie de tabelamento dos valores. Neste sentido o príncipe saudita,
anfitrião e representante da OPEP durante o encontro, declarou-se
satisfeito com preços próximos de U$70,00 para o barril.
Na realidade esta proposta intervencionista nos preços do petróleo
depende mesmo dos sauditas que mostram-se interessados em aumentar a
produção para garantir o abastecimento diante da possibilidade de
queda no abastecimento em função dos conflitos na Líbia medida também
apoiada através de declarações do representante do Iraque no mesmo
encontro.
O problema desta euforia dos árabes esbarra nas dificuldades internas
do reino caracterizadas por complicações semelhantes aos verificadas
na Tunísia, Egito e Líbia. Embora nadando em petróleo o reino saudita
enfrenta um elevado índice de desemprego com pelo menos 22% da
população ativa sem trabalho (os dados do governo reconhecem apenas
metade deste número) aspecto que contribui para um número de 40% da
população vivendo abaixo da linha de pobreza. Acrescenta-se ainda a
existência de uma monarquia absolutista chefiada por monarcas cuja
média de idade encontra-se na casa dos 83 anos todos com sérios
problemas de saúde.
O atual rei Abdullah Bin Absul Aziz até procurou assumir o papel de
déspota esclarecido, mas suas reformas não conseguem melhorar o nível
de vida da população e mantêm os privilégios dos aproximadamente 10
mil membros da família real, dividida em função da luta pelo poder,
responsáveis por administrar o Estado e diferentes setores da vida
econômica privada. A proposta de suprir o petróleo não comercializado
em função dos problemas políticos na Líbia por parte dos sauditas
corre desta forma o risco de não concretização em função da
instabilidade social. Quanto ao controle da produção interna o
governo saudita enfrentaria ainda outro sério obstáculo resultante da
entrega, através dos contratos de partilha da produção, dos campos aos
oligopólios petrolíferos maiores interessados na elevação dos preços
presentes e futuros do petróleo. Neste ponto o leitor já percebeu que
a choradeira dos ministros não vai passar da elaboração de uma
proposta ou apelos contra os especuladores sem citar naturalmente os
nomes das empresas e causas da especulação.
A conta como sempre, vai ficar para a população mundial que
enfrentará a inflação reduzindo o consumo de alimentos, o racionamento
de energia, corte nos orçamentos públicos tudo isso para garantir a
boa vida dos príncipes e demais magnatas do petróleo.
Estas medidas não encontram-se no futuro e podem ser observadas
através de ações recentes do governo chinês, dependente em grande
parte do petróleo do Oriente Médio, que aumentou em 4,6% o valor da
gasolina e trabalha com a possibilidade de elevação, neste ano de
2011, em 20% do precioso combustível.
O clima político entre os sauditas não é de tranqüilidade e verificam-
se manifestações na segunda maior cidade do reino, Jeddah, de
populares desabrigados em função de alagamentos. Este caso especifico
assume um complicador ainda maior considerando-se que 80% da população
saudita não possui residência própria.
O dinheiro do petróleo saudita que deveria ser destinado às melhorias
de vida da população é destinado ao Fundo Soberano e aplicado, para
uso futuro sei lá de quem, nas bolsas de Nova Iorque e Londres no
auxílio, no tempo presente, ao setor financeiro e, naturalmente,
negociando papeis de compra e venda de petróleo. Isso não seria
especulação?
Para a América Latina a crise do oriente médio pode ainda apresentar
um novo complicador diante da prática de exportação de matéria prima e
crescente dependência da China uma economia cuja segurança energética
necessita do petróleo importado. Neste caso ficaria o alerta diante da
possibilidade da queda de produção daquele país asiático resultante de
conseqüentes revoltas internas por falta ou dificuldade de alimentação
da população. Vamos acompanhando os acontecimentos com atenção.
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