Enxugando gelo com perueiros
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Enxugando gelo com perueiros
Ações isoladas não resolvem o caos do trânsito na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O combate aos perueiros, ao transporte clandestino de passageiros, deveria ser acompanhado de melhorias do sistema público. Os usuários buscam a clandestinidade das vans - mesmo correndo perigo, sem ter nenhuma garantia sobre o estado do veículo nem da qualificação do condutor - porque não estão satisfeitos com o sistema oficial, que oferece poucos ônibus e poucos horários
Como o poder público dificilmente consegue um combate sistemático e duradouro aos perueiros, em pouco tempo eles estarão de volta. Demanda existe. As condições das liinhas administradas pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER/MG), estes ônibus vermelhos que circulam pela região metropolitana, são as piores possíveis. Os veículos rodam superlotados em determinados horários. É muita gente em pé, encostados uns aos outros, uma verdadeira lata de sardinha, um desrespeito ao usuário.
De que adianta combater o transporte clandestino se não aumentar a frota do sistema oficial para reduzir as filas e evitar ônibus cheios? São 34 municípios na região metropolitana, além de outros 14 na área de influência, perfazendo 48 cidades, com cerca de 5,5 milhões de habitantes. A maioria tem alguma coisa a resolver no centro da capital, estuário de um sem número de linhas vermelhas, azuis, amarelas e verdes, incluindo aí as da BHTrans.
A solução, portanto, tem de ser conjunta. Levar a linha 1 do metrô até Justinópolis, o grande bairro de Ribeirão das Neves que faz divisa com BH, aliviaria - e muito - o sistema. Na outra ponta, levar o metrô do Eldorado para Betim.
Só combater as vans é muito pouco, embora seja uma medida acertada, tendo em vista, principalmente, a segurança do passageiro. Uma pesquisa rápida nas páginas deste jornal vai revelar dezenas de acidentes com vítimas causadas por vans clandestinas, que circulam sabe-se lá em quais condições.
A Associação ds Usuários de Transporte Coletivo de Belo Horizonte e Região Metropolitana (AUTC) informa que o número de usuários aumentou cerca de 10% nos últimos seis anos, mas o crescimento da frota de ônibus teria sido de pouco mais de 1%. Já o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) revela que 3 mil veículos rodam pela região metropolitana, atendendo, em média, 22 milhões de passageiros por mês.
A fiscalização do DER faz o que pode. A eficiência do combate ao perueiro foi tamanha que, de repente, com a retirada das vans, o sistema oficial ficou ainda mais superlotado. A situação é recorrente em todo o país, cuja infraestrutura não suporta mais o crescimento da economia e o surgimento de novas classes consumidoras. Não só as ruas e avenidas da região metropolitana estão lotadas de carros particulares e ônibus. Também as estradas, as rodovias e os aeroportos. O poder público sozinho dificilmente conseguirá remediar a situação.
---
EDITORIAL. Enxugando gelo com perueiros. Hoje em Dia, Belo Horizonte, nº 8.312, 27 de agosto de 2011, pág. 12.
0 comentários:
Postar um comentário