Reitor da Unir lidera organização criminosa, afirma promotor

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Reitor da Unir lidera organização criminosa, afirma promotor

Januário Amaral renunciou na quarta-feira, em meio a escândalo de corrupção. Enquanto ele desviava dinheiro público, a universidade caía aos pedaços

Bruno Huberman
 
Laudo do Corpo de Bombeiros sobre as condições de prédios da Universidade Federal de Rondônia (Unir)

Laudo do Corpo de Bombeiros sobre as condições de prédios da Universidade Federal de Rondônia (Unir) - Reprodução

"Toda organização criminosa tem um líder. E o líder, nesse caso, era o reitor", diz o promotor do Ministério Público Estadual de Rondônia (MPE-RO) , Pedro Abi-Eçad, em referência ao reitor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Januário Amaral. O reitor apresentou na quarta-feira seu pedido de renúncia depois que veio à tona seu envolvimento em um esquema de corrupção. A saída de Amaral era a principal reivindicação de estudantes e professores da universidade, que estão em greve desde o dia 14 de setembro. Cerca de 200 alunos também ocupam a reitoria há mais de 40 dias.

Amaral é alvo de dezenas de investigações do Ministério Público Federal (MPF) e do MPE. As denúncias dizem respeito a um esquema de desvio de verbas da Fundação Rio Madeira (Riomar), ligada à universidade por meio de convênios irregulares. Entre as acusações estão o uso de funcionários fantasmas, serviços superfaturados e contratos com empresas de fachada.
 

Divulgação/Unir

Januário Amaral, reitor da Unir, renunciou

Januário Amaral, reitor da Unir, renunciou

Segundo Abi-Eçad, a fundação tinha, na teoria, o objetivo desburocratizar ações da universidade e angariar recursos. Serviu, no entanto, para facilitar o desvio de verbas. "Os diretores e funcionários da Riomar são todos amigos e parentes do reitor", afirma o promotor. Atualmente, correm na Justiça de Rondônia seis processos movidos pelo MPE contra pessoas ligadas à Riomar e ao reitor. No entanto, ainda não foi ajuizada nenhuma denúncia contra Amaral - mas isso deve acontecer nos próximos dias, garante o promotor.
 
Entre as denúncias já acolhidas pela Justiça contra a Riomar está o desvio de verbas que deveriam ser usadas para a compra de marmita para os trabalhadores das construções das hidrelétricas de Jirau e de Santo Antônio, em Rondônia. O responsável pela fraude é Oscar Martins Silveira, diretor-presidente da fundação e amigo de Amaral.
 
No MPF, há dezesseis investigações em curso sobre a Unir. Entre elas, a de irregularidades na implantação de um hospital universitário que custou 4,2 milhões de reais, está pronto desde 2008, mas nunca foi inaugurado.
 
O reitor também é alvo de uma sindicância do Ministério da Educação (MEC). A auditoria foi determinada pelo ministro Fernando Haddad depois que professores e funcionários elaboraram um dossiê de 1.500 páginas que compila denúncias de corrupção levantadas pela Controladoria Geral da União (CGU), pelo MPE e pelo MPF. A comissão do MEC responsável pela investigação apresentará os resultados de seu trabalho até 5 de dezembro.
 
Ocupação – Os estudantes continuam a ocupação do prédio da reitoria da universidade, assim como a greve. Está convocada para esta quinta-feira uma assembleia para decidir os rumos do movimento. A principal pauta de reivindicação era a saída de Amaral do cargo. Mesmo assim, de acordo com a estudante de História e integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE)  Joyce Brandão, a mobilização continua até que a vice-reitora, Maria Ivonete Barbosa, assuma o posto. "Não queremos uma intervenção federal na nossa universidade", afirma Joyce. "Queremos eleições diretas para reitor".
 
O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse quarta-feira em Brasília que irá respeitar a vontade dos estudantes. Embora o prazo previsto para a realização do pleito seja de 60 dias, ele pode ser adiado devido às férias na universidade. "Nós vamos proceder exatamente como procedemos em ocasiões similares: respeitando a autonomia universitária, mas colocando o direito à educação à frente", disse o ministro. O reitor apresentou pessoalmente a Haddad sua carta de renúncia, nesta quarta, em Brasília. 
 
Infraestrutura precária – Chama a atenção o estado de abandono em que se encontra o câmpus da Unir, após doze anos de gestão de Januário Amaral. Um laudo do Corpo de Bombeiros concluído em 21 de outubro e solicitado pelos grevistas detectou 25 irregularidades nos prédios da instituição. As fotos da vistoria mostram goteiras inundando os pavilhões, infiltrações com alagamento de salas de aulas e instalações elétricas em locais impróprios e perigosos.
 
O professor Carlos Ferreira, do Departamento de Informática da Unir, lembra do acordo firmado entre o reitor e o MPE, em 2008, após uma greve de professores. Na época, Amaral comprometeu-se a melhorar as instalações do câmpus. Nada foi feito. O número de alunos passou de 6 mil em 2006 para 11 mil em 2011. O orçamento da universidade neste ano é de 120 milhões de reais, enquanto o do ano passado foi de 118 milhões de reais. Atualmente, em todos os campi da Unir, há 46 obras paralisadas. "Foi abrindo curso e entrando aluno, mas a condição material da universidade foi piorando cada vez mais", diz o professor.
 
Ameaças de morte – Os dias que antecederam a queda do reitor foram de extrema tensão, segundo professores e estudantes da universidade. Na quarta-feira da semana passada, foi deixado no câmpus um bilhete dizendo que certos alunos e professores logos estariam "descendo na enchente do rio". A expressão é uma referência à prática de se desovar cadáveres nos rios da região. "Tivemos de mudar nossos trajetos e começar a andar em grupos", conta o professor Carlos Ferreira.
 
Para o professor Estevão Fernandes, um dos ameaçados de morte, um "vazio institucional na Amazônia" permite que situações como essa aconteçam. "Esse vazio institucional torna possível a corrupção, os desvios de verbas, as ameaças de morte", diz Fernandes.  
 
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Unir não atendeu aos telefonemas nem retornou as ligações. Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, o reitor Januário Amaral negou as acusações.

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