Autor: Rafael Moraes Moura
O Estado de S. Paulo - 05/02/2013
Com novos documentos sobre a prisão de Rubens Paiva, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, disse ser possível afirmar "categoricamente" que o deputado foi morto nas dependências do DOI-Codi em janeiro de 1971.
Cláudio Fonteles apresenta documentos que apontam "categoricamente" que deputado morreu em unidade no Rio de Janeiro De posse de novos documentos que esclarecem a prisão de Rubens Paiva, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, afirmou ontem que é possível desmentir a versão oficial e afirmar "categoricamente" que o deputado foi morto nos porões do DOI-Codi.
Fonteles também negou rumores de que a presidente Dilma Rousseff estaria insatisfeita com a atividade do grupo e cogitaria inclusive substituir alguns de seus integrantes. "Afirmo categoricamente que ele (Rubens Paiva) foi morto no DOI-Codi. Pra mim, (isso) está esclarecido, só falta pontuar agora quem foi que matou, o nome da pessoa. Quem matou foi o Estado militar, esse sistema mata, agora alguém deu um tiro, deu socos", disse Fonteles a jornalistas, após reunião da comissão em Brasília. Mas Fonteles avisou que não está com a "palavra final". (DOI-Codi era o Destacamento de Operações Internas do Centro de Operações da Defesa Interna, órgão do Exército dedicado à repressão política.) Em novembro passado, a comissão recebeu papéis encontrados na casa do coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias, assassinado quando chegava a sua casa, em Porto Alegre.
Segundo Fonteles, documento do próprio Exército detalha a passagem de Rubens Paiva no DOI-Codi. "O documento demonstra, do dia 20 ao dia 25 (de janeiro de 1971), o que se passava com o Rubens Paiva. Ora, segundo a ver-são oficial, (ele) teria sido morto dia 22 de janeiro, esses documentos que marcam toda a sua trajetória nos porões do DOI-Codi não fazem nenhum registro à morte dele", disse Fonteles.
Um outro documento, o informe n°70 do DOI-Codi, explica como o ex-deputado foi levado de casa por agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa). "Fica claro que membros do Cisa, que é o serviço de informações da Aeronáutica, prendem Rubens Paiva e mais duas senhoras, e entregam essas pessoas ao DOI-Codi", afirmou Fonteles. No caso, as duas senhoras teriam desembarcado no Rio de Janeiro com cartas de exilados políticos no Chile para serem entregues a Rubens Paiva. O informe foi encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília.
O próximo passo da comissão é tentar localizar os agentes do Cisa. A documentação "é muito forte, é prova documental que vem do próprio sistema ditatorial com a tarja de "secreto"", disse o coordenador. Críticas» Fonteles rebateu, na entrevista, críticas de que Dilma estaria insatisfeita com o andamento dos trabalhos do grupo. "Eu acho que a crítica é válida, mas tem de provar. Se você for no nosso site, vai ver a quantidade de audiências públicas a que a gente tem ido para fomentar essa grande rede (de informação), já percorremos mais de 11 Estados", rebateu o coordenador. A comissão reúne-se com a presidente nas próximas semanas. "Não somos caixa preta. Que a sociedade critique o trabalho, colabore, contribua", sugeriu. Segundo Fonteles, a partir do dia 15 de fevereiro o ex-ministro Paulo Sérgio Pinheiro assume a coordenação da comissão. Entre os objetivos do grupo estão "esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos" entre 1946 e 1988.
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