Oscar Niemeyer, O Arquiteto Do Sistema

domingo, 19 de dezembro de 2010

Para ver a ilustração ir para http://titaferreira.multiply.com/journal/item/2718

Oscar Niemeyer, O Arquiteto Do Sistema

 

"Toda a Unanimidade é Burra!" (Nelson Rodrigues).
E geralmente é fabricada artificialmente" (Escaramuça, poeta, músico e artista popular)

 


O prefeito Jorge Roberto Silveira e o arquiteto Oscar Niemeyer inauguram
prédio da fundação [Jornal O Fluminense, 16.12.2010]

 


Raymundo Araujo Filho
Médico veterinário homeopata e que não enche seus olhos com megalomaníacos, seja qual forem as suas auto propaladas ideologias, e que sabe que "nós somos o que fazemos, e não o que dizemos que somos.

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Alguns amigos acharam um pouco demais que eu me disponha a escrever um artigo sobre Oscar Niemeyer, ainda mais um artigo crítico à obra e ao arquiteto considerado, sem nenhum favor, como o maior arquiteto brasileiro, o que não discordo pela sua ousadia e projeção conquistada, mesmo que eu não goste e tenha várias considerações críticas à sua obra e à sua tão propalada ideologia comunista, que para mim, de muito tempo para cá,  não passa de auto propaganda, não dele exatamente (a esta altura do campeonato), mas por aqueles que irão viver sob a sua marca no mercado da arquitetura. Ser comunista amigo e eleitor de eméritos direitistas dá um IBOPE danado. Só não ajuda ao Povo entender o que é Comunismo.

Também me disseram alguns outros, que o Dr. Oscar está com 103 anos e não mereceria crítica alguma, o que poderia até lhe fazer mal. Ora! Recuso-me a tratar o Dr, Oscar Niemeyer como um deficiente ou debilitado mental. Tenho o visto na TV e ele não demonstra nenhuma senilidade, senão os limites físicos e outros que a sua idade certamente lhe impõe. Se o contrário fosse, eu estaria denunciando os que lhe acompanham nas homenagem, no mínimo por exposição circense de um homem, ao qual tenho críticas, mas que não mereceria tamanha desfeita. Portanto, considero que o Dr. Oscar está de posse de todas as suas faculdades mentais, e sei também que ele não lerá este artigo, pois ele é dirigido muito mais ao público pagante, do que a ele próprio.

Outrossim, sei que os artistas permanecem vivos para a eternidade, através de suas obras,  e seus críticos com suas críticas pouco lidas, passam desapercebidos no Planeta. Mas, minha intenção não é a eternidade, mas apenas exercitar o dito Millorfernandiano "Livre Pensar, é só pensar!"

Começo com uma pequena monografia que tive de fazer para um crédito de História da Arte, que escolhi como uma das matérias eletivas do meu curso de graduação em medicina veterinária, por incrível que possa parecer.

A tal monografia versava exatamente sobre a arquitetura de Brasília e do Distrito Federal, pois eu já tinha ouvido falar que o modelo monumental da arquitetura moderna teve como primórdios a necessidade de Luiz XIV (O Estado Sou Eu!) se prevenir das grandes manifestações populares que pipocavam em Paris e na França inteira, prenunciando ao que conhecemos com o Revolução Francesa, depois traída e apropriada por Napoleão III, sob a mentira que as elites poderiam trazer benefícios ao Povo, o que nos ficou conhecido como Bonapartismo. Mas isso já é outra história...

Até o início do século XVII, a avenida nada mais era do que um caminho sem graça e barrento. Até que em 1616, Maria de Médicis decide construir uma alameda margeada por árvores. É chamada, então, de Cours de la Reine. Em 1670, o rei Luis XIV encarrega Andre Le Nôtre, o arquiteto paisagista responsável pelo Jardim de Versalhes, de realizar o definitivo alargamento e a transformá-la em uma avenida repleta de jardins, mas totalmente descampada, onde qualquer manifestação popular era facilmente reprimida, além de tornar 10 ou 30 mil pessoas um pequeno grupamento perdido na imensidão do monumental descampado.

Esta foi, portanto, a intenção política da reforma do "Grand Boullevard", o qual foi palco de grandes acontecimentos nacionais da França, inclusive o desfile odioso das tropas de Hitler, por sob L' Arc du Triomphe, em franca humilhação ao Povo Francês. Mas, ironicamente, foi por ali que passaram presos, a dupla Luiz XIV e Antonieta, em direção ao patíbulo da morte, onde foram decapitados, pelos crimes que cometeram e para o bem da humanidade que, aliás, continua sem pão e sem brioches. Não adiantou nada, a decapitação deles....

Bem, e o Oscar Niemeyer com isso?

Vejo muita semelhança nos projetos arquitetônicos do Dr. Oscar com esta perspectiva monumentalista (vide crítica no fim do artigo) em que ele é um dos maiores expoentes, mas não o primeiro e nem o único, tendo sido já criticada, esta arquitetura como sendo própria de Estados e Ideologias Totalitárias, aliás abraçadas por Oscar Niemeyer em sua aproximação com o regime soviético-stalinista, já tão duramente criticado por esquerdistas mais arejados, mas não por ele.

Aliás, nasci e cresci em meio a família e amigos de esquerda, que nunca tiveram nenhum apreço ao "comunismo" de Oscar Niemeyer, sempre ao lado da mais deslavada colaboração de classes, de JK a Sarney e de Moreira Franco a Lulla. Não me sai da memória o abraço que deu, em eleições passadas, no Zito (o Rei de Caxias) , pessoa de passado, presente e futuro abjetos, a meu ver. Nestas eleições, nos brindou o arquiteto "comunista" com campanha para....Marcos Maciel, um prócer da Ditadura Militar, mas "pessoa proba e digna". Indignos devem ter sido os que a Ditadura do Sr. Marcos Maciel seqüestrou, assassinou, torturou ou exilou. Aos comunistas assim, o capitalismo agradece. E muito!

A obra arquitetônica de Oscar Niemeyer é vasta e portentosa. Mas não é unanimemente adorada. Um amigo que esteve em Praga, contou-me que encontrou forte resistência a Oscar Niemeyer que andou obrando por lá e, segundo críticos, desfigurou parte da cidade, considerada uma das mais lindas do mundo.

Pessoalmente, considero Brasília e o DF uma grande fraude arquitetônica.

Uma cidade para a burocracia e os governantes do país não terem contato com o Povo, em tudo dificultado para que possa  se fazer presente em protestos, junto a quem decide o nosso futuro. Sempre ouvi dizer, vindo de pessoas inteligentes, que a ditadura militar não iria tão longe, caso a capital do Brasil, fosse no Rio.

As cidades periféricas de Brasília, estas não planejadas, têm a cara desta burguesia brasileira e seus lantejoulas que se dizem comunistas. Brasília é uma cidade idiota, para gente que explora pobres, uma perfeita Ilha da Fantasia, mas linda quando vista de avião, há muitos metros de altura....

E é uma cidade muito boa para quem tem dinheiro, aliás como todas as outras. O que pode iludir um pouco é que Brasília e o DF por serem lugares onde circula muito dinheiro, inclusive o da corrupção desenfreada, vaza algum para a "plebe rude", reproduzindo o modelo de "viver de expedientes" por gerações. Perguntem por aí, qual é a oportunidade que espera um jovem de Gama, Sobradinho, entre outras. Perguntem sobre a saúde pública, saneamento e lazer nestas regiões, onde moram TODOS os que trabalham em Brasília e no DF, mas como servidores e não na burocracia ou donos de grandes negócios, pois estes estão nas "asas da panair".

O Lago Paranoá, com suas mansões e a península do ministro, é outro símbolo desta patuscada oscarniemeyriana. Falta de senso do ridículo, co,o sabemos, é própria de aristocratas.

Hoje, Dr. Oscar promiscui seu nome a um prefeito que vive da fraude de ser filho der Roberto Silveira (Rio de Janeiro), mas que não lhe chega aos pés,  além de trair o humanismo generoso do ex governador e seu pai, fazendo, o prefeito Jorge Jorge Roberto Silveira, com que Niterói sirva, há 20 anos sob a sua influência, para negociatas da pior espécie que enriqueceu ilicitamente muita gente (e esta afirmação faço publicamente e assinada por mim), além de engendrar um plano de desenvolvimento excludente e artificial, culminando hoje na consecução de um projeto com o seu nome "Caminho Niemeyer", símbolo fálico de um projeto monumentalista, para as elites, em uma cidade que foi vítima de uma tragédia (a das chuvas de Abril), onde persiste um deficite habitacional de quase 20 mil moradias para os mais pobres, em meio  a uma desenfreada febre da construção civil para abastados.

É (in)digno de registro que o Dr. Oscar Niemeyer e seu escritório de negócios arquitetônico não tenha oferecido NENHUM projeto de casas populares, para a cidade que o acolhe, e sequer tenham percebido a iniquidade de manterem um cronograma de obras faraônicas, que gasta milhões em estruturas turísticas, culminando, entre outras porcarias arquitetônicas, uma Torre Panorâmica, com um restaurante de luxo em sua cumeeira, com vista para a Baía de Guanabara e de costas para Niterói dos pobres, a maioria da população e desgraçadamente alvo da inépcia administrativa friamente calculada, para afastar a pobreza de tão "promissora" cidade, estando nós há 8 meses da tragédia, sem que UMA só casa, ou obra séria de contenção de encostas e planos de Defesa civil, tendo sido executada. É aliado, o Dr. Oscar, de um prefeito que sofre processo de improbidade administrativa, que tentou se desvencilhar na justiça da obrigação de acolher os vitimados pelas chuvas, entre outros atos indignos. Que m* de comunismo é este, o do Dr. Oscar Niemeyer?

A perspectiva monumental implementada em Niterói, me remete ao estilo que encontramos, por exemplo, em Dubai,fruto do delírio megalomaníaco do Sheik de Agadir de lá, aliás, próprio de megalomaníacos como o prefeito JRS, entusiasta da figura de Napoleão Bonaparte, em clara falta de senso do ridículo, para não aventar coisa pior, também propulsoras de delírios megalomaníacos.

Isto é o que entendo da figura política, profissional e artística do Dr. Oscar Niemeyer. Um Arquiteto do Sistema, seja ele qual for, o importante é que lhe paguem bem.


*Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e que não enche seus olhos com megalomaníacos, seja qual forem as suas autopropaladas ideologias, e que sabe que "nós somos o que fazemos, e não o que dizemos que somos.


*Monumentalismo

1. Monumentos funcionam como símbolos concretos de uma memória reconstituída e imposta.

2. O monumentalismo é uma tentativa concreta de deter a proliferação de significados relacionados à interpretação de acontecimentos convulsivos. Os monumentos não são os símbolos de liberdade que muitas vezes aparentam ser, mas exatamente o oposto. São sinais de aprisionamento, sufocando a liberdade de expressão, a liberdade de pensamento e a liberdade de recordar. Como supervisores na prisão panóptica da ideologia, gente demais obedece de forma masoquista a sua exigência de submissão.

3. Em seu manto de silêncio, o monumento pode facilmente reprimir contestações. Para aqueles cujos valores eles representam, os monumentos oferecem um espaço tranquilo por meio da familiaridade e da tradição cínica. No monumento, os cúmplices não são sobrecarregados com a alienação que se origina na diversidade de opiniões, nem com a ansiedade das contradições morais. Estão a salvo da perturbação causada pela reflexão. Os monumentos são as casamatas ideológicas definitivas - as manifestações concretas da mentalidade de fortificação.

Critical Art Ensemble


 

 

 

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