Wladmir Coelho Original em:
http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=14845:combustivel-verde-e-colonizacao&catid=312:petroleo-e-politica&Itemid=21
A Agência Internacional de Energia (IAE) acredita que 27% do
combustível consumido no mundo em 2050 será proveniente dos chamados
biocombustíveis. Atualmente este número não ultrapassa os 2%.
Este anuncio da IAE coincide com a realização em Washington da
Coferência Anual sobre a Terra e a Pobreza organizada pelo Banco
Mundial. O evento reuniu aproximadamente 200 empresários do setor
agrícola e financeiro para o estabelecimento de normas para aquisição
de terras, em larga escala, de forma responsável nos países em
desenvolvimento. Antecedendo ao encontro, durante o mês de março de
2011, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a
Alimentação (FAO) organizou uma consulta para regulamentar os
princípios defendidos em Washington.
Em resumo o Banco Mundial defende que os investimentos para a compra
de grandes extensões de terras devem ser "transparentes,
ambientalmente saudáveis e voltados para o fortalecimento da segurança
alimentar". Todavia estas recomendações, notadamente em seu aspecto
relativo à segurança alimentar, precisam de uma urgente revisão tendo
em vista a elevação dos preços dos alimentos, associado a crescente
ocupação de terras férteis para o plantio de grãos, destinados a
fabricação de biocombustíveis.
O quadro é preocupante. A monocultura decorrente do projeto para
ampliação dos biocombustíveis somada a desvalorização do Dólar e ao
aumento da especulação com as commodities de alimentos contribuem para
a elevação dos preços colocando em risco a segurança alimentar dos
países do terceiro mundo. Diga-se de passagem, este fato é reconhecido
pelos principais financiadores do projeto incluindo o Banco Mundial e
o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Assim, em 2008 um relatório do FMI atribuía em 40% a elevação no preço
da soja a sua utilização como matéria prima para o biodiesel, enquanto
nos Estados Unidos o economista chefe do Departamento de Agricultura,
diante do Comitê Conjunto do Congresso que investigava as causas do
aumento nos preços dos alimentos, atribuía diretamente a utilização do
milho e da soja na fabricação de biocombustíveis como principal causa
da elevação dos preços.
Estudos de diferentes institutos de pesquisa detectam a elevação nos
preços dos alimentos de forma mais evidente a partir de 2002
apresentando a China uma importante contribuição para este quadro,
aumentando naquele ano o uso da soja na fabricação de biocombustíveis,
tendo por base o uso da soja. A inflação nos alimentos chineses levou
o governo a decretar, em 2006, uma moratória no desenvolvimento de
novas usinas de fabricação do óleo de soja para compor o biodiesel.
Todavia a política de segurança energética da China depende, assim
como a dos Estados Unidos e União Européia, do controle da maior
quantidade possível de áreas produtoras de petróleo e terras férteis
para o plantio de grãos, para garantir uma variedade de combustíveis.
Quanto à alimentação, a soja representa uma importante fonte de
proteínas para os chineses, após a moratória interna a produção
nacional é suficiente para alimentar metade da população.
A ocupação de terras para o plantio repete nesta primeira década do
século XXI a mesma corrida das empresas petrolíferas do século passado
em busca do controle de regiões com potencial produtivo. A reunião do
Banco Mundial em Washington revelou, em função do número de
participantes, o preocupante nível de concentração do setor de
biocombustíveis e o poder destas empresas em determinar as políticas
de ocupação da terra. Estes oligopólios possuem a experiência das
maiores petrolíferas British Petroleum, Shell agora com seus emblemas
na cor verde associadas as controladoras de sementes e tecnologia de
plantio Cargill, Monsanto.
O capital chinês também participa da divisão global dos
biocombustíveis através do conglomerado de Chongquing a Wanzhou Grain
and Oil Group. A prática do capital chinês, todavia, apresenta-se
diferenciada do oligopólio europeu e estadunidense por não priorizar a
compra direta de terras, mas contribui de modo decisivo na implantação
de práticas coloniais, pautadas na expulsão dos pequenos e médios
proprietários de suas terras para introdução da monocultura de soja.
Em alguns países do terceiro mundo, este avanço estrangeiro em terras
cultiváveis gerou reações oficiais. No Brasil, por exemplo, o
presidente Lula chegou a delimitar a quantidade máxima a ser
controlada por empresas estrangeiras inexistindo, entretanto, um
consenso no interior do governo propondo o ministro Wagner Rossi uma
flexibilização desta medida.
Independente da opinião do sr. Ministro da Agricultura percebe-se, no
caso brasileiro, a elaboração de uma política para exportação de
matéria prima – notadamente as energéticas – considerando-se os
recentes acordos com os Estados Unidos e China visando o comércio de
petróleo e óleo de soja este último, conforme explicado, matéria prima
para o biodiesel.
O ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil, Aloizio Mercadante,
ilustra com perfeição o aprofundamento do comércio, ao estilo colonial
com a China, afirmando ao site french.china.com, durante recente
viagem da presidente Dilma Rousseff : "A maior vantagem da economia
brasileira é que somos ricos em recursos naturais. Nossas fazendas
ainda estão produzindo muito". O ministro Mercadante, incrivelmente
ocupando o cargo encarregado do desenvolvimento da tecnologia
nacional, quebrava deste modo o tom oficial de "equilibrio nas
relações comerciais" entre os dois membros do BRIC revelando que
apesar da fala "enérgica" da senhora presidente estava ali para
negociar um aumento na exportação de matéria prima.
A tecnologia em questão ficou por conta dos chineses que devem
instalar no estado da Bahia uma fábrica de óleo de soja pertencente ao
grupo Wanzhou Grain and Oils. A moratória na produção interna na China
será compensada conforme a explicação do prefeito de Chongquing, Huang
Qifan, responsável pelo controle do grupo empresarial citado: "Teremos
[na Bahia] 70% das ações, e os brasileiros o restante. Assim teremos
200.000 mil hectares de terras disponíveis, o que significa que
podemos arrecadar mais de 130.000 hectares por ano". Não é preciso
comprar terras, basta uma política oficial de incentivo a monocultura
para manter a tradição colonial.
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