Na semana passada, pretendi colocar em discussão o uso indevido da palavra
"democracia", vocábulo que nos é muito caro, mas que vem sendo abastardado pela sua pretensa identificação semântica com
"capitalismo" ou "liberalismo" .
Será que realmente estamos em uma democracia só porque vivemos debaixo de um sistema que garanta a livre expressão?
Se o que nos cerca são desigualdades históricas, crônicas, onde a fome e a miséria estão presentes, essa é , realmente, uma "democracia"?
Algumas outras expressões consagradas, no campo da política ou da economia, sempre me incomodaram.
Lembro que, quando jovem, o pessoal da direita se referia aos exploradores – aí entendidos os latifundiários, os coronéis do açúcar, os grandes capitalistas, etc – como a "classe produtora", desprezando totalmente, no processo de produção da riqueza nacional, os trabalhadores do campo e da cidade, numa demonstração clara, pela seleção vocabular, de segregação social.
Hoje esse termo é menos usado, mas encontra um certo substituto na palavra "empreendedor", que parece querer referir-se tão somente aos que, detendo o capital, podem criar empresas.
Outra palavra que não me cai bem aos ouvidos, pela generalização com que hoje é empregada, é o termo "consumidor".
Parece que se está extinguindo o "cidadão", palavra que remete a todos os direitos e deveres do ser humano em uma sociedade democrática, trocada por esse vocábulo que revela claramente a essência de uma economia "de mercado", na qual as pessoas valem pelo que possuem ou podem possuir e só nessa condição devem agir.
Aliás, a palavra "mercado" também é incomodativa, porque ocupa, hoje, destaque equivalente ao dos magos e demiurgos de antigamente, quase um deus a comandar o espetáculo da desigualdade social.
Quando ouço declarações de que "o mercado está nervoso", confesso que eu é que fico, diante desse disparate metonímico.
Nem vou dizer aqui, ainda no plano da economia, o que penso da "lei da oferta e da procura", pois certamente seria trucidado verbalmente pelo pessoal do economês.
Mas sempre me pareceu estranho que, havendo maior procura por um bem, este tenha que ter seu valor aumentado: é o mesmo bem, sua produção demandou o mesmo custo, mas ele passa a "valer mais" porque há mais gente que o tem como objetivo.
Confortável para quem produz, não? Mas e o outro lado, como é que fica? Fica pagando mais...
Na relação de palavras ou conjunto de palavras que me parecem exotéricas, está a expressão "segredo de Estado".
Afinal, que é o Estado, quem é o Estado?
Em boa hora, em episódio recente, o Governo parece que acabou entendendo que não...
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