A teoria política do pau mandado

sábado, 29 de setembro de 2012

Miguel do Rosário

Como responder a um desclassificado como Demétrio Magnoli, um ressentido que aluga sua pena para atacar, de maneira vil, um dos nomes mais estimados da ciência política contemporânea?

Uma das características mais belas da democracia é a liberdade para divergir, é a pluralidade infinita de pontos-de-vista. Quando esta é feita com elegância, representa talvez o momento mais importante de um regime democrático. O nosso modelo vem do fundador da filosofia moderna, Sócrates, que elogiava seus adversários antes de rebater, sempre de maneira refinada e respeitosa, ponto a ponto seus argumentos.

Infelizmente, a elegância socrática hoje se tornou obsoleta, e vemos os idiotas, como diria Nelson Rodrigues, perdendo a modéstia.

Wanderley Guilherme dos Santos não fez críticas ao conhecimento jurídico dos excelentíssimos ministros do Supremo Tribunal Federal (embora tivesse pleno direito de fazê-lo). Os ministros podem ser sumidades em direito constitucional, mas assim como isso não os torna especialistas em física quântica, também não os faz conhecedores do processos de alianças eleitorais ou pós-eleitorais, eleições, democracia, acordos políticos. Para Wanderley Guilherme, que já escreveu dezenas de livros sobre o tema, deve ser angustiante assistir aos juízes discorrerem sobre assuntos que não dominam e, pior, justificarem seu votos com isso.

(...)

Demétrio Magnoli representa, ele sim, a fronteira entre a submissão covarde à direita midiática golpista e a corrupção intelectual e ideológica que a acompanha. Ele não entende nada de patrimonialismo, nem de representação proporcional, nem de democracia. Seu texto é uma tentativa patética de distorcer as palavras do cientista político mais brilhante do nosso tempo, que reúne qualidades raras num intelectual: fina sensibilidade, intuição política aguçada e erudição esmagadora.

Até dá para entender que um escriba de quinta grandeza como Demétrio se roa de inveja de um pensador como Wanderley Guilherme dos Santos, com suas dezenas de livros premiados e estudados no mundo inteiro, e que, mesmo assim, mesmo realizado profissionalmente, ainda tenha disposição de entrar no campo minado das polêmicas políticas e dar uma opinião contrária ao discurso dominante na mídia. Dá para entender, e desprezar.

Ele conclui o artigo de maneira que deve ter lhe parecido brilhante: mencionar a polêmica foto em que Lula e Maluf fecham um acordo eleitoral para ampliar o tempo de TV de Haddad em São Paulo. Wanderley explica, em sua entrevista, que o partido de esquerda da Suécia se manteve no poder, por mais de trinta anos, através de uma aliança com uma legenda conservadora, e conseguiu transformar o país num dos regimes políticos mais avançados do mundo. Alianças políticas, no mundo inteiro, são feitas entre forças diferentes. O governo colombiano, conservador, acaba de fechar acordo com as Farcs, marxistas revolucionárias. Churchill ganhou a II Guerra após fechar uma aliança com seu maior adversário ideológico, Stálin.

Se foi para derrotar o ultraconservadorismo tucano, o partido golpista da imprensa, e seus escribas lacaios, Lula agiu certo. E se o mais agressivo dos pitbulls da mídia recebe a missão de atacar o nome mais querido da ciência política brasileira, é porque Wanderley Guilherme dos Santos, assim como 1962 e depois em 2005, fez uma análise precisa e devastadora. Diferentemente do que aconteceu em 1962, quando suas advertências não foram ouvidas, hoje as palavras de Wanderley se espalham pelo país como um rastilho de pólvora, incendiando a verdadeira opinião pública, não aquela das cartinhas selecionadas, com o fogo de uma indignação fria, objetiva, terrível. A resposta às suas baixarias, senhor Magnoli, não virá do professor Wanderley. Virá – com um estrondo ensurdecedor – das urnas!

--
Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "Tribuna Online" dos Grupos do Google.
Para postar neste grupo, envie um e-mail para tribunaonline@googlegroups.com.
Para cancelar a inscrição nesse grupo, envie um e-mail para tribunaonline+unsubscribe@googlegroups.com.
Para obter mais opções, visite esse grupo em http://groups.google.com/group/tribunaonline?hl=pt-BR.

0 comentários: