O nosso eleitorado brasileiro corrupto ainda discute a presença de mulher e negro na política

domingo, 21 de outubro de 2012

O nosso eleitorado brasileiro corrupto ainda discute a presença de mulher e negro na política

Imaculada Virgínia Pereira Souto e 

Abigail Pereira Aranha 

Fonte: Futebosta, http://www.facebook.com/photo.php?fbid=283447958438554&set=a.276148712501812.63752.276145262502157&type=1&relevant_count=1

Lula afirma que povo brasileiro se preocupa mais com futebol do que com o julgamento do Mensalão. Fonte: Futebosta, http://www.facebook.com/photo.php?fbid=283447958438554&set=a.276148712501812.63752.276145262502157&type=1&relevant_count=1

"Lula: povo se preocupa mais com futebol do que com mensalão". Exame.com, 07/10/2012. É de doer, principalmente porque o Lula tem razão. Com tanta besteira que ele já disse na imprensa, ele tem razão justo nisso.

Vamos comparar com umas notícias que a gente achou:

  1. Teresa é a única mulher eleita prefeita nas capitais
  2. Mulheres ganham espaço das eleições municipais de 2012. Foram eleitas centenas de novas prefeitas pelo Brasil. Elas já somam 12% dos prefeitos eleitos, um aumento de 31% em relação ao 1º turno de 2008.
  3. Sobe 31,5% o número de mulheres eleitas prefeitas no Brasil
  4. Divinópolis não elegeu nenhuma vereadora para o próximo mandato
  5. Na Baixada só cinco mulheres ocuparão cargos na Câmara: em Santos nenhuma e em Bertioga duas estarão presentes…
  6. Cadê as mulheres?
  7. Eleições 2012 têm recorde de mulheres eleitas para prefeituras municipais. Essa é da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SS-PM).
  8. Com quase 70% de renovação, Câmara volta a ter um negro após 30 anos
  9. Adilson Bboy Pé de Chumbo é primeiro vereador negro a ser eleito em Varginha
  10. 1ª vereadora travesti de Piracicaba, Madalena escolhe terno para posse. Antes de ir lá ver: a bicha é das feias.

O Mensalão, o esquema de corrupção em que políticos da situação subornavam políticos da oposição para votar a favor dos projetos do governo, foi julgado depois de 7 anos. A bomba estourou no fim do primeiro mandato do Lula. Ele foi reeleito com a terceira maior votação da história da humanidade, terminou o mandato, conseguiu a eleição da candidata dele (e só a campanha dessa senhora Dilma Rousseff já tem uns podres que dão para outra postagem) e o caso foi ser julgado por agora, com o presidente do PT achando ruim de ser antes da eleição. E tem gente dizendo que julgar o Mensalão é golpe da mídia contra o PT. E golpe contra o Lula, ou seja, os petistas mesmo confirmam como a dona Dilma é insignificante. E quem fala em golpe, em PIG (Partido da Imprensa Golpista) não é nem gente filiada ao PT só, é popular também. Militantes pé-de-chinelo, sindicalistas profissionais, funcionários públicos, ongueiros ou apenas capachos com vergonha de ter um pau e a cor branca. Pra não falar de outros países, no Brasil mesmo em 1992 o então presidente sofreu impeachment depois de protesto na rua pelo país inteiro "só" por causa de um caixa 2 na própria campanha. Até o partido dele mudou de nome. Agora, a corrupção é do eleitorado inteiro.

Tivemos a Lei da Ficha Limpa aprovada para a partir desta eleição, "um marco fundamental para a democracia e a luta contra a corrupção e a impunidade no país" (Página Ficha Limpa). Uma ova! Isso é a falência moral do país! Tem outros problemas nessa lei, inclusive a questão do abuso. Mas um candidato corrupto ou com crime comum nas costas tem que ser proibido de concorrer para moralizar a política? E se não fosse por isso? O candidato ganha mais votos se sair no jornal que ele já desviou dinheiro público do que com uma corrente na internet dizendo que ele vai cobrar imposto das igrejas?

E nós já estamos notando desde 2010: se um candidato não se apoiar no Lula, no Aécio Neves ou em outra figurinha carismática e resolver apresentar propostas de verdade, ele se lasca. Os candidatos dos melhores santinhos em matéria de propostas, ou dos melhores horários políticos em matéria de conteúdo, ou os que têm um blog bom e mais simples, quase todos perdem feio.

Já dizia o mestre Millôr Fernandes: "Reparem bem se nossos constantes ataques à corrupção não vêm sempre com uma pontinha de inveja" (IstoÉ de 28 de fevereiro de 1990). O Guilherme Fiuza publicou "A privatização da Dilma é outra" no O Globo de 18/08/2012, texto muito bom. Ele diz, por exemplo, que "se o Brasil tivesse avisado, em 2006, que não topa esse tipo de coisa [o Mensalão], jamais teria aparecido uma Erenice Guerra chefiando a Casa Civil, cheia de parentes e amigos fazendo bons negócios com contratos públicos", mas ele fala da corrupção só na classe política. A crise moral é do nosso eleitorado que vota no vereador que vai fazer obra no bairro dele, que vai dar aumento pro funcionário público (quando o eleitor é um) ou simplesmente vai votar no primeiro ou o segundo colocado nas pesquisas. Com as honrosas exceções, condenar a corrupção na política deixou de ser ética pra ser inveja.

E o que isso tem a ver com a proporção das mulheres e dos negros na política? Se aumentar, a política melhora? O cacete! Então, o que essa turma quer? Entrar na boquinha, ou colocar gente medíocre na boquinha. Quem duvida responda algumas perguntas:

  1. Quem já deu provas de que "quando uma mulher entra na política ela muda a mulher, quando muitas mulheres entram na política, elas mudam a política"? Nós mesmas já provamos o contrário.
  2. Quantas vezes os da "igualdade" falam de mulher na política, negro na política, não-hetero na política para cada vez que fala em ética na política ou competência na política?
  3. Quantos projetos de lei úteis para a sociedade em geral foram feitos por mulheres, não-brancos ou LGBT em relação ao total?

Só quando a ética e a competência não importam mais, quando os candidatos com as melhores estão entre os menos votados, quando ninguém tem vergonha de concorrer a um cargo político depois de desviar dinheiro público é que tantos se importam com qual tribo tem mais ou menos gente na classe política.

--
Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "Tribuna Online" dos Grupos do Google.
Para postar neste grupo, envie um e-mail para tribunaonline@googlegroups.com.
Para cancelar a inscrição nesse grupo, envie um e-mail para tribunaonline+unsubscribe@googlegroups.com.
Para obter mais opções, visite esse grupo em http://groups.google.com/group/tribunaonline?hl=pt-BR.

0 comentários: