BRANCO E PRETO

terça-feira, 11 de outubro de 2011
BRANCO E PRETO


Pedro havia acabado de descer a escadaria do tribunal, onde tinha
atuado numa bem sucedida defesa. Estava se dirigindo ao estacionamento
e pensava no trânsito que tinha que enfrentar naquele horário. Dentro
do automóvel ainda tentava entender o motivo que aceitara aquele caso.
Topou defender o acusado porque realmente acreditava em sua inocência
e, isto no seu caso, não era motivo suficiente.

O congestionamento estava pior do que havia imaginado.

Num cruzamento, onde o trânsito se arrastava lentamente, se deparou
com uma cena medonha. Um homem, aparentando ter a sua idade, apontava
uma arma para uma senhora que tentava atravessar o sinal. Ele segurava
o braço da vítima e parecia disposto a disparar.

Sem pensar, impulsivamente Pedro saltou do carro e foi em direção ao
assaltante gritando para ele a deixar em paz preservar a vida dela.
Escutou a sirene da polícia quando o marginal, assustado, virou a arma
em sua direção e puxou o gatilho.

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Paulo acordou. Olhou a arma que estava em cima do criado-mudo e pensou
desesperadamente: "meu Deus, o que vou fazer para conseguir o dinheiro
e garantir o barraco de minha irmã?!".

Não conseguia mais vislumbrar outra alternativa. Aliás, achava que
tinha tentado todas. Assim, colocou o revolver na cintura e saiu
caminhando por ruas tumultuadas. O mundo parecia está girando ao
contrário. Estava certo que ia fazer um grande bem. Salvaria a vida de
sua irmã e de seus setes sobrinhos. Não conseguia organizar os
pensamentos. As emoções estavam no comando! Mas, tinha que encontrar
uma solução urgente.

Quando foi atravessar um sinal imaginou ter encontrado uma
oportunidade quando viu uma senhora com uma bolsa de grife e bem
vestida atravessando no sentido contrário ao dele. Puxou a arma e
pediu-lhe a bolsa. Foi então que, de repente, alguém surgiu dos meios
dos carros correndo em sua direção de forma ameaçadora. Não teve tempo
para pensar e intuitivamente puxou o gatilho. Ao mesmo instante sentiu
o impacto de um tiro disparado por policiais que estavam se
aproximando da cena. Sentiu o mundo escurecer e desabou.

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Pedro nasceu com a ânsia de conhecer a maldade e só pensava em fazer o
mal, mas em toda a sua vida, por um motivo ou outro, só fez o bem. Ao
contrário, Paulo nasceu destinado para conhecer e fazer o bem,
contudo, só causou sofrimento.

Pedro e Paulo jamais haviam se encontrado antes até o dia daquele
incidente onde foram mortos.

Quando os dois morreram foram recebidos no céu pelo grande sábio que
afirmou para ambos:

-Vocês acabaram de erguer a minha igreja!


Hideraldo Montenegro

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